
A mágica da compreensão II
por Sergio Vellozo Lucas
A cena
Uma criança brinca com um cão em um cenário de trabalho frenético para organizar uma megafesta no amplo jardim de uma bela casa de subúrbio.
Ele busca o olhar dos pais, que, muito ocupados, não dão a menor atenção.
Num instante de agitação o cachorro esbarra no canto da mesa central, aonde toda a louça da festa aguardava para ser distribuída pelas mesas periféricas. Os pratos e copos se espatifam ruidosamente no chão.
O barulho vem do local aonde o menino estava e todos os olhos que até então o ignoravam, convergem instantaneamente para ele. Como faróis iluminando um fugitivo. O cachorro foge rapidamente da cena do crime, sem ser percebido. Os olhos marejados e o rosto contraído de medo revelam um menino desamparado. Todos os fatos visíveis pareciam incrimina-lo.
O garoto fica totalmente solitário no meio dos olhares acusadores, até o seu fiel cachorro não está mais ao seu lado.
A mágica da compreensão
No auge do desespero surge o rosto conhecido do seu pai entre os olhos desconhecidos que o fitam. Ele abre os braços com um sorriso franco e acolhe o filho num abraço emocionado. Todo o corpo do menino sorri junto com sua boca, os olhos ainda marejados, agora de alívio, agradecem em silêncio.
É maravilhoso ser compreendido.
P.S.: Essa é a lembrança romanceada do roteiro de uma propaganda dos mórmons nos anos setenta. Não tenho qualquer simpatia pelos mórmons, muito pelo contrário, mas essa mensagem marcante nunca saiu da minha cabeça e até hoje é capaz de me comover. Marcou tanto que essa é a segunda versão dessa história que eu escrevo.
Compreender alguém é a forma mais eficaz de romper a solidão.
Compreender pode romper a solidão de quem é compreendido e de quem compreende.
Compreender o outro, em maior ou menor grau, é a missão de todos os homens na terra.